segunda-feira, 30 de maio de 2016

Receita

A receita é simples: se tudo começar a dar tudo errado, deixo tudo para depois, apenas paro, porque sei que se não conseguir mudar a frequência, tudo continuará meio torto. Se for tristeza, lave louças, arrume a casa, mas jamais as gavetas; tristeza e gavetas não combinam. Se a querela existencial for mau humor desligue telefones, melhor fazer um bolo. Se o peito apertar, banho longo, chocolates e filmes bobos; cozinhar é absolutamente proibido, peça algo no Delivery mais próximo. Se der pânico, não preste atenção no corpo. Para todas as condições, reze. Rezar é antes de tudo silenciar. Reze para Deus, Nossa senhora, um santo. Silencie os cômodos e incômodos de seu corpo. Foi a partir destas receitas que me ensinei uma grande lição: cuidar de cada dor separadamente, de modo a embalá-la com cuidado. Sentimentos devem ser embalados em acalantos particulares, não se deve olhar as dores como quem soluciona equações nem tampouco apenas organizar os sentimentos em gavetas adequadas; cada dor deve ser observada, silenciosamente, sem grandes alardes. Reconhecer suas desordens, insistências e excessos, e após tamanho cuidado, deixá-la ir, mas não sem antes guardar sua lição, e a maior lição que as dores nos deixam é a de que um dia fatalmente as deixaremos ir...
(luciana_chardelli)

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