terça-feira, 27 de março de 2012

RETORNAR A EXPERIÊNCIA DA FÉ!

Hoje, há muitos discursos sobre Deus e pouca experiência de Deus. Ambas estão conectadas e devem permanecer unidas, mas são diferentes no modo de agir. A primeira vem do falar, a segunda é proveniente do viver. Uma reflete o conhecimento intelectual, já a outra também é conhecimento, porém obtido pelo aprendizado da fé. Enquanto uma age no campo racional, a seguinte atua em nível de sentimentos que dão sentido à vida.

O discurso responde ‘o porquê’ da fé. A experiência concede significado ao que cremos. O discurso evangeliza nossas palavras. A experiência converte o nosso coração. Uma não deveria operar sem a outra. Mesmo assim, observa-se que há discursos bem corretos na teologia, mas fadados à ineficácia, pois são desprovidos de experiência. Fala-se de teorias e exila-se a prática.

Em meio às grandes dificuldades da vida a pessoa é sustentada pela experiência de Deus. O discurso é consequência. Falamos daquilo que acreditamos e, principalmente, do que vivenciamos. Sabemos que os problemas são fatos constantes da existência. Dificilmente estaremos longe deles ou seremos privados de sua manifestação.

Problema é tudo aquilo que nos faz sofrer, que mina nossas forças, que suscita desesperança em nosso ser, que provoca raiva, ódio e bate-bocas dentro de casa e até mesmo no ambiente de trabalho. São obstáculos a superar! Quando não solucionado, ele só tende a gerar sofrimento em cima de sofrimento. Em alguns casos, o problema desenvolve a péssima característica de fugir do nosso controle e isso, muitas vezes, aborrece a alma, ocasionando as mais dolorosas mágoas, bem como ressentimentos.

A situação ainda se agrava quando acreditamos que os problemas são enviados pelo Pai Eterno. Imagina-se um Deus justiceiro e castigador, que paga o mal com o mal e, acaba-se esquecendo de que Sua essência é puro amor. Na condição de Pai, Deus nunca envia dificuldades e aflições aos seus filhos. Ele não pode nem quer o mal. A Sua natureza paterna o impede de despachar: sejam tormentos, sejam agonias. O Pai só quer o nosso bem e, sobretudo, se esforça para que tenhamos a felicidade em plenitude.

No cotidiano e em meio aos problemas tem algumas pessoas que se desesperam e acham que o sentido para a vida se perdeu. Há contextos em que as lágrimas tornam-se recorrentes, abrindo espaço para todo tipo de depressão. Deixa-se de lado a experiência da fé e sucumbe-se na experiência do desamparo.

Em um cenário assim alguns se sentem abandonados pelo Pai, como se Ele os estivesse esquecido: “Sião dizia: Javé, me abandonou, o Senhor me esqueceu! Mas pode a mãe se esquecer do seu bebê? Pode ela deixar de ter amor pelo filho de suas entranhas? Ainda que ela se esqueça, eu não me esquecerei de você. Veja! Eu tatuei você na palma da minha mão; suas muralhas estão sempre diante de mim. Juro por minha vida!” (Is 49, 14-17). O Pai jamais esquecerá aquele que saiu de Si. Somos componentes da vida Divina que habita em nosso eu interior. Se Ele se esquecesse de nós estaria esquecendo-se de Si mesmo, pois somos partes de Deus.

À medida que nos deixamos conduzir pela experiência da fé os problemas deixam de ser o fundamento de nossa vida, pois um só é o fundamento: o Divino Pai Eterno! Nele é possível sorrir novamente, crendo que o problema não é maior que o nosso Deus! “Tenho para mim que os sofrimentos da presente vida não têm proporção alguma com a glória futura que nos deve ser manifestada. Por isso, a criação aguarda ansiosamente a manifestação dos filhos de Deus” (Rm 8,18-19).

A fé nos convida a não conceder aos problemas mais atenção do que eles solicitam. Junto aos problemas está a capacidade de resolvê-los. É importante reconhecer que não há solução para tudo, assim como reza o ditado popular: “O que não tem solução, resolvido está”.

O fato de aceitar determinadas realidades nos faz gastar menos energia e reduzir o sofrimento. ‘Aceitação’ é diferente de ‘comodismo’. Um é sinal de maturidade, ao passo que o outro gera desistência. “Somos atribulados por todos os lados, mas não desanimamos; somos postos em extrema dificuldade, mas não somos vencidos por nenhum obstáculo; somos perseguidos, mas não abandonados; prostrados por terra, mas não aniquilados” (II Cor 4,7-9).

Na oração, o Pai Eterno nos ensina que a vida é muito maior que nossos problemas. Portanto, busquemos a experiência de Deus, para que nosso discurso seja fruto daquilo que vivenciamos. Assim, falaremos com conhecimento de causa e não de emaranhado de estatísticas. A experiência não nos infantiliza, pelo contrário, nos torna adultos na fé. Estejamos preparados para os desafios que a espiritualidade cristã nos provoca e convoca sempre!

Pe. Robson de Oliveira, C.Ss.R.

DEUS É A BÚSSOLA DA NOSSA VIDA!

Já sei. Alguns pensarão: “O padre está sendo saudosista. Falar de Bússola quando se pode usar a linguagem do GPS?” Sim! Estou a me referir daquela envelhecida caixa, que se vale de uma pequena agulha, para indicar o eixo magnético da Terra. Não faço referência às modernas bússolas, utilizadas para prever terremotos ou mapear profundidades no oceano. Estou a discorrer sobre a antiga mesmo.
Um utensílio naval, responsável pelos grandes descobrimentos da história. Por meio dele é possível encontrar a direção entre Norte-Sul, Leste-Oeste e determinar uma trajetória. ‘Rumo’ e ‘orientação’ são as características mais importantes de uma bússola. No navio ela é conhecida como agulha de marear. Só tem utilidade devido ao seu poder de atração, gerado pelo ferro magnético, em sua seta-guia.
Por outro lado, o GPS (Global Positioning System) é comandado por sinais de satélites e dados matemáticos, capazes de indicar a exata localização de um determinado ponto geográfico. Os satélites estão a uma distância de 20.000 km, percorrendo a órbita do planeta pelo o menos duas vezes ao dia. Já a bússola esta ali, próxima de nossas mãos. O GPS é um receptor, a bússola uma orientadora. O primeiro localiza, o segundo indica. Se um determina, o outro aponta para um norte. Por isso, a linguagem da bússola combina mais com a espiritualidade cristã.
Peregrinando na imensidão de águas azuis está o barco da nossa vida. Uns possuem apenas um remo. Outros têm possantes motores. Cada um cresce com sua embarcação à medida que avança na fé. Em alguns momentos somos conduzidos por ventos leves e calmos. Mas, também há as grandes tempestades em alto mar. Elas podem demorar ou vir rapidamente. Às vezes, são tão velozes que é impossível emitir um alerta. Ninguém nunca nos enganou, dizendo que não haveria temporais na navegação. Comandantes, marinheiros e passageiros sabem muito bem disso. A culpa não é do mar, nem tanto do vento. Talvez, seja consequência de nossas escolhas. Aquela mania constante de não darmos atenção merecida à bússola da nossa vida: o próprio Deus!
Nem sempre, mas em determinados momentos nos comportamos como crianças birrentas e teimosas. Queremos aquilo e pronto, sem ao menos pensar nas implicações de nossas escolhas. Isso é inconsequência. Não correspondemos às prudentes manobras, insistindo em seguir por uma rota perigosa. Arriscamos os frutos do Evangelho em nós. Deixamos à deriva as bagagens que acumulamos, pela insistência de viver a euforia do momento. O navio da vida também encalha e para não naufragar é sustentado pelas mãos do Pai.
Quantas vezes, motivados pelo nervosismo injustificado, ferimos aqueles que estão navegando em nossas embarcações. Carregamos suas vidas, seus sonhos, suas memórias. Não os valorizamos e assim permitimos que, em meio às fortes ondas, estes se tornem desaparecidos de nossa vida. Basta agitar e retirá-los. Quando excluímos pessoas pelo seu jeito de ser e pensar, pela sua cultura e opções, catalogando-as entre puras e impuras, estamos a afogá-las nas águas, jogando-as às feras marinhas. Não nos esqueçamos de que também somos responsáveis pela salvação daqueles que entraram em nossa história. Quem sabe eles não estão ali aguardando o colete salva-vidas que possuímos?
O mar não é um lugar de aventuras. Ele também pode ser traiçoeiro, fazendo com que tenhamos que lutar pela vida: contra a desidratação, a hipotermia (perda de calor) e ao ataque de tubarões. Sobrevivemos quando saímos do naufrágio, causado pelos problemas e pelas grandes dificuldades. Não ficamos perdidos no mar, quando permitimos que Deus seja a direção que nos conduz.
Por mais que a água do oceano da vida tende invadir nosso refúgio seguro, o Pai nos concederá meios concretos para resistirmos às tribulações. Mas, precisamos ter claro de que Ele é a bússola. Nunca assumirá o nosso lugar no comando da existência. Deus não nos infantiliza, pelo contrário, nos emancipa na fé.
Não sei se você que lê este artigo é uma balsa, se está entre caravelas, se é um iate desportivo, um grande navio, uma simples canoa ou um enorme transatlântico, com a vã onipotência de suas rotas oceânicas. Nada disso importa no coração do Pai Eterno. Podemos ser apenas um bote. Independente daquilo que somos, o fundamental é se deixar guiar pela Bússola da nossa fé. Deixar-nos conduzir pelo Amor e não pelo ódio. Viver do apelo Divino e de acordo com a Sua santa vontade. Não por submissão cega, mas por escolha livre e responsável.
Termino com a letra desta bonita e significativa canção: “Se as águas do mar da vida quiserem te afogar, segura na mão Deus e vai. Se as tristezas desta vida quiserem te sufocar, segura na mão de Deus e vai. Segura na mão de Deus, segura na mão de Deus, pois Ela, Ela te sustentará. Não temas, segue adiante e não olhes para trás! Segura na mão de Deus e vai!”.

Pe. Robson de Oliveira, C.Ss.R.

ONDE ESTÃO AS NOSSAS OBRAS, LÁ ESTARÁ TAMBÉM A NOSSA FÉ!



Dou início a este artigo me remetendo ao poema do saudoso Manuel Bandeira: “Vi ontem um bicho na imundície do pátio, catando comida entre os detritos. Quando achava alguma coisa não examinava nem cheirava, engolia com voracidade. O bicho não era um cão, não era um gato, não era um rato. O bicho, meu Deus, era um homem”. Infelizmente, esta composição poética sempre é atualizada na vida de quem é vítima da pobreza. Passam-se anos, décadas, séculos e lá está a miséria, mãe do trabalho escravo; o enriquecimento ilícito, pai da exclusão social e a conduta imoral, irmã mais próxima da corrupção.

Para nós que cremos, a fé é uma imersão na vida Divina e uma inserção de esperança na sociedade. Ela habita o nosso ser, transforma a nossa consciência, evangeliza nossas atitudes, converte o nosso coração, nos fazendo testemunhar no que cremos, de forma concreta; sem discursos, mas na prática. “Meus irmãos, se alguém que diz que tem fé, mas não obras, que adiante isso? Por acaso a fé poderá salvá-lo? Por exemplo: um irmão ou irmã não têm o que vestir e lhes falta o pão de cada dia. Então alguém de vocês diz para eles: ‘Vão em paz, se aqueçam e comam bastante’; no entanto, não lhes dá o necessário para o corpo. Que adiante isso? Assim também é a fé sem as obras, ela está completamente morta. Alguém poderia dizer ainda: ‘Você tem a fé, e eu tenho as obras. Pois bem! Mostre-me a sua fé sem obras, e eu, com as minhas obras, lhe mostrarei a minha fé. Como vocês estão vendo, o homem é justificado pelas obras, e não somente pela fé” (Tg 2,14-18.24).

Causa dor e é lamentável a situação de muitos oprimidos, que vivem em regime de trabalho escravo ou semi-escravidão. Dados recentes do Ministério do Trabalho e Emprego afirmam que há 294 infratores, dentre pessoas físicas e jurídicas, responsáveis por situações de serviço degradante, endividamento dos funcionários e jornada de trabalho acima de 16 horas.

Há representantes políticos do agronegócio e das empresas urbanas capazes de afirmar a possibilidade de exageros. Para eles o conceito de trabalho escravo carece de definição no Brasil. Por isto, ainda existe uma grande resistência a aprovação da PEC 438/2001, que autoriza o Governo Federal a apreender terras utilizadas para o trabalho escravo, sem indenização ao proprietário e doadas à reforma agrária. E a escravidão continua…

Pesquisas científicas já comprovam que até 2050 países como o Brasil, a China, a Índia, o México, a Turquia e a Indonésia vão duplicar o valor de suas produções; crescendo acima dos oito países mais ricos e industrializados do mundo (Estados Unidos, Japão, Alemanha, Reino Unido, França, Itália, Canadá e Rússia). A crise imobiliária norte-americana e o descontrole das contas públicas europeias, que têm assolado o mercado mundial, já dão os indicativos desta mudança. E aqui nos cabe perguntar: à custa de quem virá o crescimento econômico?

Pensemos na China que cresce como um gigante (me desculpem a expressão a seguir), explorando seu próprio povo. Não é novidade o caso de funcionários que se suicidam devido à precariedade do salário e a insustentável jornada de trabalho. Não há os sindicatos, defendidos pela Igreja, em sua Doutrina Social e muito menos o direito a greve, sempre que justa e necessária. Atrás de cada Made in China ‘pode’ haver uma situação deflagrada de desumanidade ao trabalhador. No gigante asiático é comum ver as indústrias mudarem de localidade sempre que encontram uma região com o salário mais baixo que a outra. Com isso chegam a lucrar 20% além de toda lucratividade já garantida.

Na mesma direção vem o trabalho infantil. De modo especial, falemos do nosso amado e injustiçado Brasil. Estatísticas já apontam que existem 5,5 milhões de crianças na escravidão. E o que mais entristece: elas começam a trabalhar com apenas 5 anos: carregando caixas, comercializando verduras, aplicando venenos, trabalhando em carvoarias, pisando barro de futuros tijolos. Age com inconsequência quem afirma que criança deve trabalhar cedo para não cair na marginalidade. Acabam se esquecendo de que é a educação quem os livrará do crime, não a exploração.

A justiça social e a honestidade estão a gritar em vários setores da sociedade. Lutam em vão aqueles que tentam silenciá-las. A dignidade humana nos convoca a agir em favor dos que sofrem daquela doença chamada: miséria imerecida. Trabalhadores morrem às traças no campo, impedidos de retornar para suas regiões de origem, enquanto crianças são esmagadas nos lixões, onde se alimentam, brincam e residem. “Não examinava nem cheirava: engolia com voracidade”.

Olhemos sinceramente para a nossa fé e reconheçamos que sem obras ela é ineficaz. Que o dom da caridade e, não o assistencialismo, motive nossas atitudes, junto à consciência social e política. Sem segundas intenções e longe de promoção pessoal ajamos pelos que vivem à margem da sociedade. Pela autenticidade da fé devemos existir para as mesmas pessoas que Jesus existiu em sua época. Ele sentou-se à mesa, junto com os cobradores de impostos; Ele perdoou a prostituta arrependida, que banhou seus pés com lágrimas; Ele curou os leprosos, amaldiçoados e jogados para fora das cidades, por serem considerados impuros. E nós? Para quem temos existido?

Pe. Robson de Oliveira, C.Ss.R.

quinta-feira, 15 de março de 2012

SOPRO VITAL DO ETERNO



Sábio é aquele que descobriu o Céu em seu próprio coração.
É quem viu o eterno em cada alvorecer - e também em cada entardecer .
É quem ama com um simples olhar silencioso... E vê o Real, mesmo em meio às brumas de ilusão.
É quem vê o Divino no olhar da criança - e também no olhar do Ancião.
Ah, sábio é quem não se julga sábio, mas, sim, um eterno aprendiz do Todo.
É quem voa nas asas de uma linda canção e sente, no seu bojo, uma manifestação do som das esferas espirituais.
É quem reconhece o Ser Supremo em cada criatura.
É quem abdicou das ridículas noções de "Eu" e de "Meu", e sente-se como criança diante da magnitude do infinito que vislumbra...
É quem navega no oceano da existência com as velas de sua nau insufladas pelo vento do Supremo.
É quem sabe que o grande comandante de tudo é Brahman!*
Ah, sábio é quem diz, de todo coração "Tudo é Ele!...Tudo é Ele!...Tudo é Ele!"
P.S.:
O Supremo mora no coração e os sábios moram com ele!
E, de sua morada luminosa, eles olham a sucessão das eras e a evolução dos homens... E, silenciosamente, eles abençoam a jornada de todos os seres.
Sim, eles velam secretamente, por obra e graça do Supremo Amor.
Porque eles sabem que Brahman é a respiração de tudo que respira!
E são eles que ensinam: "É só o Amor que nos leva..."
Oxalá as velas de nossas naus também estejam insufladas pelo Vento do discernimento e do Amor, rumo ao porto feliz da Consciência Cósmica...

Wagner Borges